Começou o Fantasporto. Ironicamente, nunca fui a muitos filmes durante o festival, e ainda assim, incomoda-me não poder ir. Dizem que também já não é o que era, que ficou muito mais comercial, os preços então já não têm nada a ver com os originais - bem reduzidos, o que até fazia sentido quando a maioria dos filmes era estrangeira, sem legendas, e no fundo, com um público alvo de uma mão cheia de fanáticos. Digo eu, que não fui muitas vezes, mas achava piada ao ambiente, e tinha amigos que durante o Fantas acampavam nos cinemas que transmitiam os tais filmes, compravam um passe para os filmes todos e faziam maratonas para irem ao maior número de sessões possíveis, conseguindo a proeza de passarem quase três semanas sentados em frente ao écran gigante durante cerca de 12 horas por dia. E que não desistiam, mesmo que o filme fosse asiático e não tivesse legendas. Eram eles que depois davam dicas ao pessoal dos filmes que realmente valia a pena ver - se não fossem eles, eu nunca teria visto o Cubo, por exemplo, ou ainda outros filmes mais obscuros, dos quais me esqueceu o nome, mas retenho na memória as histórias completamente fora do normal (para filmes), ou os litros de ketchup utilizados - em particular num filme antigo de um realizador neozelandês em que se utilizavam cortadores de relva para decepar membros ao pessoal. Os zombies parecia que tinham mangueiras dentro deles a mandar tinta vermelha cá para fora, um espectáculo. O mais engraçado é que, mais tarde, o Kill Bill me fez lembrar este filme antigo. Tanto sangue, tanta mangueira, tanta tinta vermelha, são semelhanças fortes.
Há muitos anos, fui ao Carlos Alberto (nem sei se ainda se pode ir ao cinema lá, mas penso que já não) ver um dos pesadelos em Elm Street, durante o Fantasporto. Nesse ano, seria possivelmente o filme mais comercial que por lá passou. Lembro-me de a sala não estar completamente cheia, e ainda assim ter ficado perto de uma coluna. A meio do filme, cuja história já esqueci, uma cena que me ficou gravada na memória: enquanto o mauzão do Freddy Krueger falava com uma vítima ao telefone de fio, de repente, sai uma língua gigante do bocal do telefone. Eu gritei. Foi a única vez que me lembro de ter uma reacção dessas num cinema, e o mais esquisito é que ninguém ficou a olhar para mim, ninguém achou estranho. Nem sei se mais alguém gritou. Desde aí, nunca mais vi filmes de terror de livre vontade. Pelo menos, um certo tipo de terror. Quando tenho a televisão ligada (e muitas vezes está ligada sem que eu esteja propriamente a ver), se começo a ouvir pessoas a gritar, ou aflitas, mudo logo de canal. O sangue não me incomoda, mas há coisas que eu não suporto ver, e muito menos ouvir.
Em 2003, no Halloween, fui ver uma sneak preview. Saiu-nos o remake do Texas Chainsaw Massacre. Ainda tentei aguentar, mas após 5 minutos de gritos, não pude mais. Foi a única vez em que saí do cinema a meio do filme, até hoje.
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