domingo, abril 15, 2007
Algarve nunca mais
O Algarve é supostamente o ex-libris do turismo nacional. Enquanto crescia, passei lá alguns Verões, e mais tarde comecei a apenas frequentar o Algarve na altura da Páscoa, por já não suportar o espectáculo de Verão dos magotes de turistas nacionais e estrangeiros, o trânsito caótico, as bichas para tudo, os supermercados cheios de gente, e as praias onde já não há espaço para andar entre tantas toalhas estendidas.
O Algarve que eu conhecia, que era mau em certas alturas do ano, e deserto no resto do ano, mudou, como aliás era de esperar, mas não da forma que eu imaginava. Continua a ser insuportável no Verão - dizem - e continua a estar deserto na época baixa. No entanto, a paisagem mudou drasticamente nuns sítios, e noutros está em vias de mudar. Há caixotes por todo o lado. Até pode ser barato comprar um T3 mais ou menos à beira mar, mas qual é o interesse de se viver num sítio onde as vistas darão, muito provavelmente, para os caixotes em frente, atrás e dos lados? Nenhuma, por isso é que ninguém se muda para lá, os caixotes estão vazios durante a maior parte do tempo. Agora percebo as conversas da treta do desenvolvimento sustentado, do turismo, das autarquias e dos construtores. Pois se nas cidades onde vive muita gente faz sentido construir prédios altos para poder haver uma maior densidade populacional - afinal, as cidades não esticam, têm apenas uma certa área onde o maior número de pessoas quer viver por uma questão de comodidade - o Algarve também não estica. Para enfiar milhões de turistas num espaço relativamente reduzido é necessário construir, construir, construir, e claro que a construção tem que ser em altura. Ao início até nem têm muito mau aspecto, aqueles prédios todos novos, pintados com cores bonitas, mas dêem-lhes uns 3 ou 4 anos para a tinta começar a estalar e a cair (como se pode comprovar pelos prédios um pouco mais "antigos") e aí se verá a belíssima paisagem que se criou. Claro que por essa altura ninguém se vai incomodar com esse facto - os andares estarão vendidos, e quem quiser comprar irá sempre para o novo caixote a ser construído umas centenas de metros mais atrás. Com o passar dos anos, se a coisa correr bem, haverá necessidade de deitar abaixo alguns prédios para construir novos - de preferência mais altos, para cativar a elite do turismo que pode pagar mais pelos andares de cima, e pelo privilégio de, por uns meses, ter as tais vistas de mar - até que o próximo arranha-céus seja construído mesmo à sua frente.
Entretanto, nem sequer há turistas suficientes para que a maioria dos bares e restaurantes de praia se mantenham abertos durante a época baixa (que é a maior parte do ano), e muito menos as lojas e restaurantes da vila ou cidade, enquanto que os cafés se encontram às moscas, e o conjunto parece uma enorme cidade fantasma, onde o sol brilha durante o dia, e a escuridão é a rainha da noite. 4 comentário(s)
4 Comentário(s):
curioso... ainda hoje fiz um post sobre o mesmo tema, mas menos profundo. apenas sentimentos. e temos a mesma opinião.
By rosa, at 9:54 da tarde
O Algarve nunca me seduziu exactamente por tudo o que referes, a única coisa que gosto no Algarve é da temperatura da água e dos D. Rodrigos e de um sitio que por não ser tão turistico ainda se consegue passar uns bons momentos, Tavira ou a Ilha de Tavira, já lá não vou à uns bons anos, provavelmente até já esse sitio que nunca foi de luxo, também já esteja alterado e que desgosto vou ter se assim for.
By Micas, at 10:12 da tarde
eu (re)descobri um algarve novo há 4 anos atrás. entre sagres e lagos, onde não há caixotes e ainda é possível descobrir praias vazias. :)
By Patsy Dear, at 5:25 da tarde
Entao há esperança! É continuar a procurar... :)
(ainda assim, parece-me que deve ser difícil encontrar sítios tao giros e ainda por descobrir como no Alentejo)
By snowgaze, at 11:10 da tarde
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