Hoje são os óscares, amanhã é outra coisa qualquer. Anda tudo ao mesmo, ao que não interessa mesmo nada, ao que faz girar o mundo sem mudar coisa nenhuma. Que é que me interessa quem ganhou uma estatueta dourada, eu que quase nem vejo filmes, chateiam-me aquelas histórias que dá para adivinhar como vão terminar ou continuar, mas que seca, não gosto de finais felizes nem de piadas previsíveis, as comédias do cinema só me fazem, no máximo, sorrir, eu queria era rir à gargalhada como quando estou com alguns amigos que valem muito mais que ouro. E também não gosto de finais tristes, não gosto de finais, é tudo, nem de histórias repetidas, como os cromos da bola que trocava com os meus amigos da primária.
Enquanto isso há quem se preocupe com o menino que só quer jogar futebol, ou que não tem jeitinho nenhum para a escola, e apesar de os pais quererem mandar os miúdos todos para a universidade - a não ser aqueles que os mandam para as escolas de futebol ou de outras artes - e todos se esquecem que a coisa mais importante desta vida é ser-se feliz, a fazer seja o que for, nem que seja a cortar cabelos (parece que é das profissões que mais satisfação dão, a de cabeleireiro). Que é que se há-de fazer aos putos, eles sabem lá o que querem, a profissão de hoje é motorista de autocarro, amanhã vão ser engenheiros e depois jogadores profissionais de playstation.
Hoje estou farta de tudo, mais ainda de tudo o que é igual para todos. As coisas que não funcionam, o que não se consegue, as esperanças naquilo que nunca vai acontecer. O tempo que demora para as coisas mudarem, que esta vida é curta e simultaneamente comprida, a lista interminável de coisas que quero fazer, o medo de um dia já não haver mais nada, e apesar de tudo saber que não é assim. As coisas em que nunca tinha pensado e que agora se põem diante de mim, estão à espera que faça o quê?, que reconheça que ali estão, que podia ter aproveitado enquanto podia, e agora que acabou, penso nisso, e no que virá, e que se calhar não estou a aproveitar nada outra vez, e daqui a 10, 15, 20 anos me vou arrepender, outra vez, de não ter feito mais, de não ter desfrutado mais.
E enquanto escrevo, saem-me palavras dos dedos que me transportam de novo àquilo que foi, à adoração que alguém teve pelas minhas pernas, à lição de vida que apanhei, sem assimilar (mas eu até já sabia), de que é preciso sempre aproveitar o momento, não se volta atrás, e nunca se sabe se poderemos voltar a ter outra oportunidade. Outra, que não a mesma, nunca se volta a ter a mesma hipótese de fazer as coisas de uma certa maneira. Devia ter ido ao Gerês, fui tão parva, mas ao menos passei muito tempo à beira mar, enquanto pude, debaixo de um guarda-sol com os livros para estudar, na esplanada a ficar com a cara vermelha, os passeios de mota no meio da cidade.
Aprendi a chegar tarde para me aborrecer menos, uma só frase que me lembra de duas pessoas que nem têm nada a ver, que engraçado, uma que me ensinou que não há problema em chegar tarde a certos sítios, e outra que dizia "aborrecido".
Estranho isto que me sai pelos dedos. As palavras que saem umas atrás das outras e vêm com pessoas agarradas. Trabalhos, muito divertimento, aulas, amigos, passeios, estas palavras genéricas não trazem nada com elas. Há outras que sempre vêm com alguém a reboque. Assimétrico, por exemplo. Entendido. Juízo. Juizinho.
A pressa de viver. As coisas que sempre soube, inconscientemente. Andam à roda na minha cabeça, e agora que vejo isto tudo e não sei o que fazer com tanta informação. Quando se sabem as coisas com antecedência, devíamo-nos preparar melhor para elas. Recalcar, ignorar, seguir em frente sem fazer nada não ajuda. Há coisas que sempre soube que iria fazer, muitos anos antes de acontecerem. Neste momento ando à procura dentro de mim das outras que irei fazer. Sei que lá estão. Só falta encontrá-las. Ou então, não. Fazer basta.
3 comentário(s)
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
zigzag
3 Comentário(s):
Um verdadeiro carrossel de emoções. Bonito, como sempre :)
By Edelweiss, at 2:36 da tarde
Gostei.
É o melhor elogio que posso fazer.
O resto, virá.
By Tiago Franco, at 9:21 da tarde
gostei muito deste poste :)
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