Um homem, daqueles que só aparecem nos filmes, bem vestido, com fato preto, e camisa, branca talvez, sem gravata.
Um casarão, rés do chão e primeiro andar, com uma escadaria imensa, a fazer lembrar um palácio, mas sem as alas, sem os criados, sem ninguém. Em frente à casa, uma praça com algumas árvores mas deserta de gente. No primeiro andar, uma varanda enorme. O sol a bater.
E o homem, é só charme, só falinhas mansas, voz grave, de rádio, não precisa de convencer ninguém porque só de o olhar e o ouvir por breves instantes o mundo fica convencido que ele é que é, não o maior, mas o melhor, irresistível, inebriante, viciante. Dá vontade de o agarrar e trazer connosco para casa, para a rua, para todo o lado, para os melhores lados. Não se consegue sentir-lhe o cheiro, como a qualquer homem saído de um filme, mas sabe-se, só de olhar, e apreciar, que cheira a qualquer coisa viciante, um cheiro a que não se quer nem se pode escapar.
E a mulher, vestidinho preto, saltos altos, ela sabe bem que o quer e que não se consegue libertar dele, enquanto ele a quiser ela vai fazer tudo e mais alguma coisa para estar com ele mais uns segundos. E aquela viagem, só para o ver mais uma vez, em primeira classe, conseguida com os pontos das milhas de tantas outras viagens que nem tinha querido fazer, soube-lhe a ansiedade e a lágrimas, porque sabia, apesar de fora dela, que aquele não era homem para ninguém.
Encontram-se na varanda, com vista para a praça e falam, mas não os consigo ouvir. A mulher tenta convencê-lo a ficar com ela, mas sabe bem que essa é uma batalha perdida. Faz uma cena, chora, e vai-se embora. Corre pela varanda fora, e ao chegar à escadaria, olha para trás disfarçadamente, a ver se ele veio atrás. Ele veio, meia batalha ganha. Pelo caminho, por algum estranho motivo ele mudou para uma camisa amarela, ou alaranjada, e vai apertando os botões enquanto a segue, escadas abaixo. Ao chegar ao fundo das escadas, ela vê outra mulher chegar. E sabe que está tudo perdido, e acabado, ele não vai continuar atrás dela.
Ainda assim, nunca se poderá zangar com ele a sério. Por pior que as coisas corram, ao menos este homem faz tudo com estilo, mesmo aquilo que não faz. E o charme irresistível, a voz irresistível deste homem acabará sempre por levá-la a sonhar com o passado e a aceitar qualquer migalha do futuro.
E eu, que só sonhei com isto tudo, não consigo tirar este homem - que não conheço, nunca vi, e provavelmente nem sequer existe - da minha cabeça.
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segunda-feira, novembro 27, 2006
Mr. Charm
1 Comentário(s):
Meu Deus, também quero ter sonhos desses!
By Rita Maria, at 2:05 da tarde
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