quinta-feira, novembro 23, 2006

Agrafos

Durante quatro anos tive um agrafador que se portava mal. Muitas vezes recusava-se a agrafar, quase sempre entortava os agrafos, e muito raramente fazia o seu trabalho bem feito. Tinha duas posições de agrafar: a normal, em que as pontas do agrafo ficam uma virada para a outra, e outra posição, em que as pontas dos agrafos ficam a apontar para longe uma da outra. Ainda para mais, eu nunca podia utilizar a posição normal, pois na maioria das vezes o agrafador encravava com a porcaria do agrafo lá preso, e tinha que sacar daquele objecto metálico que serve para tirar agrafos do papel, para retirar os agrafos do agrafador....
Por estes motivos, nunca gostei do agrafador. Irritava-me, fazia-me andar às voltas, e, acima de tudo, era um preguiçoso que dava sempre problemas nas alturas em que devia trabalhar. Apesar disso, nunca gostei de deitar fora coisas que funcionam - mesmo quando funcionam muito mal - e o agrafador foi ficando. Passados quatro anos de tortura, o agrafador deu o berro. De repente, deixou de agrafar. Eu juro que até tentei repará-lo, mas não consegui. Não percebi se foi alguma peça que se desencaixou - embora não tenha conseguido encaixar as peças que me pareceram poder estar soltas - ou se alguma coisa partiu. O agrafador deixou de encaixar como dantes, e deixou de agrafar. E eu finalmente não tive outra opção senão arranjar outro.
O meu novo agrafador é um bocadinho mais pequeno, mais bonito, e, acima de tudo, é eficiente. Funciona sempre à primeira. Não tenho que carregar com força para que os agrafos não fiquem presos no agrafador em vez de no papel. O novo agrafador nunca me deixa ficar mal. Ainda bem que o velho avariou. Que descanse em paz numa lixeira qualquer.
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