quinta-feira, setembro 28, 2006
O princípio do fim
Apesar de na maior parte do tempo me continuar a sentir da mesma maneira que antes de ser uma adulta responsável (se é que é isso que sou, gosto de pensar que não, mas a verdade é que tenho uma parte muito adulta e responsável, e outra extremamente infantil, brincalhona, e malandra), há acontecimentos que me chocam ao ponto de me fazerem perceber que já não sou uma miúda. Não é só o facto de já não ter que ir às aulas de manhã - nem de poder faltar às aulas de manhã - nem sequer o facto de me pagarem por um trabalho que faço regularmente - afinal eu até trabalho há muitos anos, embora tenha feito coisas diferentes daquilo que faço hoje em dia. De repente, o meu cérebro absorve a informação de que tenho um trabalho a sério. Já não é um bando de miúdos a brincar às profissões, são diversos adultos que têm vidas privadas, que se não saem à noite não é porque os pais não deixam mas porque os filhos exigem a sua presença, que se aturam mutuamente mesmo que não se suportem, que fazem fofocas sobre os colegas, e que, e isto é que foi o meu momento de clarividência, um dia vão-se embora porque está na hora de deixar de trabalhar. A reforma, é uma coisa que só acontece àqueles muito velhos (quer dizer...), é um adeus permanente, e às vezes custa não só a quem vai, mas também a quem fica. Há uns dias, uma secretária reformou-se. Fez uma festa, e eu nem fui - não a conhecia bem, e por isso nem liguei, tinha coisas mais importantes a fazer. Daqui a pouco tempo, um dos meus colegas preferidos vai-se reformar. É um tipo bem disposto, compincha, eficiente, e tem sempre boas histórias para contar. Vai-se embora para a terra dele, e muito provavelmente nunca mais o vou ver. É quase como se morresse, para mim. Para ele, suponho que seja bom - reformou-se uns anitos antes dos 65 (poucos), apesar de perder parte da reforma, prefere aproveitar o resto da vida a fazer outras coisas que lhe dêem mais prazer. Eu, e sei que outros colegas pensam o mesmo, tenho pena, sou egoísta ao ponto de desejar que ele mudasse de ideias e ficasse. Vai-me fazer falta. A quem é que eu vou pedir ajuda, quando precisar? E, mais importante ainda, quem é que nos vai trazer aqueles bolos austríacos deliciosos?
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