sexta-feira, junho 16, 2006

Globalização

Durante a febre do Euro, Portugal andava vestido com a bandeira nacional. Com castelos ou pagodes, ela estava por todo o lado: janelas, carros, varandas, you name it. Houve quem dissesse que era parvoíce, houve quem achasse o máximo, e, agora sei, houve quem visse ali uma oportunidade de negócio a exportar.
Até há uns dias, eu nunca tinha visto alemães a celebrar uma vitória no futebol. Não se o o Bayern München nunca foi campeão desde que cá estou, mas desconfio que mesmo que tivesse sido, eu nunca o viria a saber. Ao contrário do Porto, aqui não há a invasão da baixa pelos adeptos ou fans ou amigos do clube quando este vence uma grande competição, e as buzinas pela noite fora provavelmente fazem parte apenas de um pesadelo raro de uma das muitas pessoas que odeia barulho e chama a polícia ao mínimo distúrbio.
No entanto, os alemães devem estar em mutação. Deve ser do calor. No jogo de abertura ouvi as primeiras buzinadelas de sempre. Só duraram uns parcos minutos, e não eram assim muitas, mas já é um princípio. A seguir ao jogo de Itália ouviram-se ainda mais, mas pensei que fosse efeito do sangue latino e não liguei muito. Mas depois do segundo jogo da Alemanha comecei a ficar preocupada. Os bávaros andavam pelas ruas embrulhados a bandeiras de tamanho gigante, bêbados de tantas litradas de cerveja para festejar, a correr sérios riscos de serem atropelados. Jovens loiros desfilavam pelas ruas vestidos com tricots da selecção e ostentando orgulhosamente bandeiras alemãs enquanto cantavam que iam para Berlim (onde se disputará a final). Finalmente descobri onde se encontram os adeptos do futebol - na zona central do centro comercial do aeroporto de Munique existe uma área aberta grande onde às vezes há festas, e é aí agora que os jogos são transmitidos em écrans gigantes.
Pelo menos em Munique, há bandeiras por todo o lado. Já descobri que tenho uns vizinhos portugueses-alemães pelas bandeiras na janela. Há carros que passeiam não uma, mas duas bandeiras alemãs presas em cada uma das janelas de trás, que abanam ao vento como que dizendo "desta é que vai ser". Outros trazem duas bandeiras de diferentes equipas: normalmente a alemã e uma de outro país.
Os jornais chamam a atenção para o fenómeno: de momento, as fábricas trabalham a toda a velocidade para venderem mais bandeiras do que nunca, numa febre que ninguém tinha antecipado. Nas ruas, entrevistam jovens que dizem que a bandeira é um acessório do Mundial, como poderia ser um cinto ou uns óculos de sol. Deve ser por isso que se encontram bandeiras à venda em lojas de roupa.
Afinal, Portugal exporta mais do que Mateus Rosé. Pena que não possam cobrar pela operação de marketing.
1 comentário(s)

1 Comentário(s):

Também nao podemos esquecer outro "produto" de exportacao de Portugal para a Alemanha: nós os emigrantes portugueses porreiracos...

Eu estou de acordo contigo acerca, das bandeiras, mas nao sei se é por morar num cidadezinha no interior da "Sauerland" (terra amarga) que os acho ainda muito timidos em relacao ao europeu 2004
(que tive a sorte de estar entao em Portugal, foi mesmo o delirio total...)

Beijinhos

By Blogger Mamaíta, at 6:38 da tarde  

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