quinta-feira, maio 18, 2006

O hábito faz o monge?

Munique nunca pára de me surpreender. Pela positiva, e também pela negativa de vez em quando. No início, achava estranhíssimo, no mínimo, que os homens não olhassem ostensivamente para os decotes das gajas, por muito boas que elas fossem, já para não dizer que "bocas" é coisa rara por aqui. Digo "rara" e não "completamente inexistente", porque de vez em quando lá aparece algum estrangeiro (normalmente italiano, mas não obrigatoriamente) que contraria esta "regra".
Hoje vi pela primeira vez um (neste caso uma) pedinte no meio da rua. De joelhos, com o rabo apoiado nos pés, como se estivesse a rezar, mas de mãos abertas, na esperança que lhe dessem umas moeditas. Suponho que não fique lá muito tempo. Em Munique, a polícia é mais que muita, e mesmo os artistas de rua têm que ter uma licença para poderem ganhar a vida na cidade.
Ia eu pela rua abaixo, a pensar na minha vida, em passo apressado porque, como de costume, já estava atrasada para um encontro. Um encontro especial, que marquei para depois dos meus anos, porque sabia no que é que ia dar, e não estava psicologicamente preparada para isto antes de me tornar oficialmente velha. E este encontro só viria juntar mais um ponto à lista de "razões pelas quais eu sei que não estou a ficar mais nova". Não sabia bem onde é que ficava a porta do oftalmologista, apesar de não ser a primeira vez que lá ia, e no preciso momento encontrava a porta certa, aparece-me uma gaja por trás, a pedir desculpa, mas tinha mesmo que falar comigo. Eu tinha passado por ela uns metros atrás e ela tinha-me vindo a seguir porque era mesmo muito importante. Eu estava mesmo a ver o que é que ela queria: ou era um inquérito, ou então queria-me vender alguma coisa, só podia ser. Ainda assim, eu devia estar bem disposta, pelo que só lhe disse que tinha que ser rápida porque eu tinha que fazer. No entanto, eu estava completamente enganada. Não sei se foi dos meus óculos de sol à Jackie Onassis, ou da gabardina branca (estava a chuviscar ligeiramente), ou outra coisa qualquer - o meu charme que se nota a milhas, talvez - mas o que ela queria era dar-me um emprego. E não era como modelo, actriz, trabalhadora da indústria do sexo, mas uma coisa decente, num escritório que trata de preencher os papéis do IRS ao pessoal. Agradeci - é sempre bom saber as possibilidades que temos - e fui à minha vida sem sequer me passar pela cabeça pedir-lhe o contacto. Afinal, eu não passei a vida a estudar para acabar num gabinete de contabilidade (mas se tivesse que ser, também o fazia com todo o gosto).
Depois deste encontro, fui ver o meu oftalmologista, o tal que iria certificar que estou velha, senão de espírito, pelo menos de corpo. Foi um amor, muito compreensivo, mas vai-me obrigar a usar óculos na mesma. Uma seca. Eu só não protestei mais porque realmente conduzir sem conseguir ler as placas de sinalização a não ser quando já estou em cima delas (ou seja, tarde demais para virar) também não me agrada nada. E assistir a um concerto a uns 10 metros do palco e não conseguir reconhecer ninguém que lá esteja também não tem piadinha absolutamente nenhuma. No entanto, nem tudo foram más notícias. Parece que, por algum motivo que eu não conheço, se eu quiser posso corrigir a minha visão através do deus da medicina moderna - o laser - muito em breve.
Há dias em que estamos no topo do mundo. Mesmo que parte de nós esteja na merda (ainda que desfocada).
6 comentário(s)

6 Comentário(s):

Afinal já fizeste anos? Ainda uns posts abaixo estavas a planear as celebrações? Parabéns atrasados? Ou estou a ler tudo do avesso?

By Blogger Rita Maria, at 7:26 da tarde  

E vais usar óculos sempre ou só de vez em quando como eu???

By Blogger LiLith, at 9:07 da tarde  

Rita: Já fiz anos. Mas vou continuar a festeja durante mais umas semanas eheh.

bloodylilith: durante um mês vou usar sempre óculos (quer dizer... durante as festas nao vou usar óculos nenhuns, era o que faltava!), apesar de ver perfeitamente até uns 5-7 metros de distância. Depois, depende do que decidir fazer.

By Blogger snowgaze, at 8:17 da manhã  

pois, olha, eu usei óculos "para ler e ver televisao" durante anos e, de um momento para o outro, deixei de precisar. quer dizer, continuo sem ver bem ao longe, mas isso nem com óculos via, por isso pelo menos agora nao preciso andar com eles atrás.

By Anonymous Anónimo, at 7:32 da tarde  

Bem...pelo menos conseguiste ver a porta do consultório!

By Blogger kuka, at 10:30 da manhã  

Opá, nao sabia que ja tinhas feito anos!

Solucao pro problema: lentes de contacto! Toda a gente diz que nao se habitua, mas o que é facto é que é apenas uma questao de treino! :)

By Blogger Mãe Minhoca, at 2:16 da tarde  

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