Há coisas na vida que sao estranhas. Crescer é estranho. Passar de crianca a adolescente, de adolescente a adulto, é estranho. Nascer, deve ser mesmo muito estranho. No fundo, as mudancas sao estranhas. E mesmo assim, está tudo sempre a mudar. As pessoas crescem, fisicamente, emocionalmente, espiritualmente. Mudam aspectos das suas personalidades, mudam de opinioes, mudam os locais que frequentam, mudam de amigos, mudam de emprego, mudam de vida.
Quando somos miúdos, parece tudo natural. Há os "grandes" e os "pequenos", os que nos dao porrada, e aqueles a quem damos porrada. Os professores, e os outros alunos, companheiros de aprendizagem e de brincadeiras. Sabemos que temos que ir para a escola, para aprender e um dia "sermos alguém". Professor, médico, engenheiro, arquitecto, electricista, mecânico, cozinheiro. Limpa chaminés. Varredor. Jardineiro. Jornalista. Animador de rádio. Actor. Cantor. Músico. Bombeiro. Cientista. Astronauta.
Ambicionamos um dia ser uma destas coisas, ou outra parecida. Ter um emprego, saber fazer alguma coisa. Mas durante muito tempo é a única coisa que sabemos é que temos que ser alguém. Nao sabemos o que é que é ser alguém, ou o que é que se faz quando finalmente somos alguém.
E um dia, finalmente, depois de tanta aprendizagem, somos finalmente aquilo que quisemos ser. Sabemos umas coisas. Já nao somos miúdos. Arranjamos um emprego. Trabalhamos. Esforcamo-nos para ser reconhecidos, para ter sucesso, para fazer coisas, para mostrar ao mundo a nossa contribuicao.
E um belo dia, apercebemo-nos de que algo mudou. Os nossos pares já nao sao como nós. Nao crescem ao mesmo tempo que nós. Nao vao evoluindo à mesma velocidade que nós. Nao vivem como nós. Já nem temos a certeza de que realmente temos pares, iguais a nós.
Uns casam, outros divorciam-se, outros têm filhos. Uns mudam de emprego, outros nao, uns ganham bem, outros nem por isso. Uns parecem estar felizes, outros nem tanto, outros parecem carregar às costas o peso do mundo.
De repente parece que já nao sabemos nada. Já nao há a hierarquia de sempre, os mais velhos e os mais novos nao se relacionam como enquanto andávamos na escola. E aparece uma nova categoria de gente nas nossas vidas: "os intermédios". Os intermédios sao os gajos que nao têm idade para ser nossos pais, mas também nao têm idade ter andado connosco na escola. Às vezes tratamo-los como "mais velhos", respeitamos o que dizem e aprendemos com eles, outras vezes tratamo-los como um de nós, vamos todos para os copos dizemos piadas e fazemos parte da mesma malta.
Os intermédios sao uns gajos estranhos. Alguns deles sao muito fixes. Alguns deles sao umas bestas. E os que sao umas bestas tornam-nos a vida difícil. Tudo porque é difícil compreendê-los. Alguns desforram-se em nós por estarem frustrados com a vida deles. Outros parecem ter prazer em fazer os outros andar à nora. Mas, mais importante ainda, os intermédios fazem-nos pensar no que é que nos vamos tornar nos próximos anos. Eles sao uma espécie de previsao do futuro. Podemos aprender com eles como nos tornar em alguém que nos agrade.
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quinta-feira, abril 06, 2006
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1 Comentário(s):
Má! Agora fiquei com medo dos intermédios! :)
By Dani, at 11:29 da manhã
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