sexta-feira, abril 28, 2006

Espartanos

O meu puto é demais. No outro dia, "esqueceu-se" de trazer os trabalhos de casa, e assim ganhou a possibilidade de passar a tarde a brincar. Eu apercebi-me e disse-lhe que no dia seguinte trouxesse as coisas para os fazer, naquela de "mais vale tarde que nunca", e até podia ser que o professor não se chateasse. Estas coisas às vezes acontecem, e não vale a pena fazer grande drama por causa disso, principalmente quando o professor também não dá grande importância ao assunto.
No dia seguinte, quando o miúdo chega da escola, vem, muito orgulhoso, contar-me as novidades. Um outro miúdo também se tinha esquecido dos trabalhos de casa, e quando avisou o professor, este adiou a correcção dos tpcs para depois, e mandou todos os meninos fazer uma ficha qualquer no livro. Ora, o meu puto aproveitou logo para não dizer nada sobre os seus próprios trabalhos esquecidos, e tratar de os fazer em conjunto com a outra ficha. Como houve um miúdo que o topou, pediu-lhe logo que não dissesse nada ao professor, a ver se se safava desta. E chegando a casa, claro que tinha que me contar, com grande orgulho, o que tinha feito. Que é que eu havia de fazer? Podia castigá-lo por não ter dito a verdade, por não ter feito os trabalhos na altura devida, ou até por andar a fazer maroteiras como se fosse uma coisa que se deva fazer. Ou podia aproveitar para um momento de confidências mãe-filho, e contar-lhe que quando eu era da idade dele às vezes também fazia o mesmo, mas que era melhor que não se voltasse a esquecer dos trabalhos na escola, que é a maneira mais segura de não se meter em sarilhos. Optei pela segunda escolha, até porque o miúdo normalmente não se mete em problemas pelo que não vale a pena fazer uma tempestade num copo de água quando se pode transmitir a mesma mensagem de uma forma menos conflituosa.
Depois disto, o miúdo achou imensa piada à minha história. E foi buscar um dos livros dele para me mostrar como ele era parecido com os gregos antigos. É que segundo o livro dele, havia uns gregos, os espartanos, que faziam tudo o possível, incluindo mentir e enganar, para se livrarem de problemas. Eu não sabia disto. Mas o mais chocante foi ver o puto todo contente a identificar-se como trapaceiro. Estou tramada com ele.
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