segunda-feira, abril 03, 2006

Colaborar

Embirro com o termo "colaborador". Parece-me sempre uma maneira de eufemizar alguma coisa de que se tem vergonha, ou de mimimizar a participação de alguém. Até pode ser politicamente correcto. Mas não me agrada nadinha.
Chamar à empregada doméstica, ou à mulher a dias "colaboradora", só pode ser piada. Sim pois, ela até colabora, faz aquilo que lhe pedem (ou o que lhe mandam?), mas a troco de quê? Do prazer de colaborar?
E o colaborador do jornal, que afinal era mas era um repórter que escrevia um texto todas as semanas, tinha prazos a cumprir e um monte de gente que se achava chefe dele? Chamavam-lhe colaborador só porque trabalhava a recibos verdes, porque não tencionavam dar-lhe um contrato (nem mesmo a prazo) e o verdadeiro título que corresponderia às tarefas que desempenhava.
Um colaborador trabalha, coopera, desempenha funções que levam a um determinado objectivo. Mas não é um trabalhador. Não é um engenheiro, um arquitecto, um médico, um enfermeiro, (mesmo que seja) é um gajo que está ali por acaso para dar um jeito e que mais tarde ou mais cedo irá à sua vida. Vida essa onde não colabora apenas, mas que vive, a 100%.
Deve ser por causa do carácter temporal do termo que embirro tanto com ele. Um colaborador é alguém que não está para durar. Desempenha alguma função, mas só até que a chuva passe. Não se põem as mãos no fogo por um colaborador. Sabe-se lá o que é que ele andou a fazer, ou o que é que ele irá fazer. Um colaborador é alguém que, por mais próximo que nos possa ser, quanto mais não seja porque está lá a dar o coiro por nós todos os dias, queremos que saiba que é um estranho, e que continuará a ser um estranho. Senhor colaborador, mantenha-se no seu lugar. Faça o seu trabalho, e não nos venha dar opiniões. Se se fartar, a portinha é ali. E de onde você veio, há muitos outros à espera de uma oportunidade de colaborar
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