quarta-feira, março 22, 2006

Trabalho e filhos

A propósito disto e disto.

Os preconceitos deviam ser abolidos. Liberdade faz falta. Não a liberdade de escolher trabalhar e ter filhos, mas a liberdade de o fazer sem que venha meio mundo chatear-nos a cabeça. Acreditem ou não (e os alemães não acreditam, ou pelo menos fazem uma careta de incredulidade) a minha mãe trabalhava, e as minhas avós trabalhavam, e os filhos não gostavam menos delas por isso. Aliás, provavelmente até gostavam mais delas por isso.

Mãe, quanto mais vejo o que fazem as outras mães por estas terras supostamente desenvolvidas, mais gosto de ti e de mães como tu. Obrigada por me teres dado liberdade, obrigada por não teres estado em cima de mim 24 horas por dia. Obrigada por me teres deixado andar pelo meu pé desde que aprendi a andar, obrigada por me teres tirado a chupeta antes de eu ter idade para a rebentar com os dentes, obrigada por não me teres passeado em carrinhos de bebé quando eu já não cabia neles. Obrigada por me teres deixado ir a pé para a escola primária, obrigada por me teres levado à escola quando chovia, obrigada por me teres confiado a chave de casa aos 10 anos. E muito obrigada por um dia me teres deixado ir passear sozinha com as minhas calças novas quando eu tinha 9 anos (senti-me muito crescida). Obrigada por não teres estado sempre em casa. Obrigada pelas oportunidades que tive de fazer asneiras, de esfolar os joelhos, de brincar com miúdos da minha idade o dia todo (no infantário, na escola, e na rua). E acima de tudo, obrigada por me teres ensinado a ser uma mulher independente, com o teu exemplo.
Obrigada pai, por teres incentivado que a nossa família fosse assim. Obrigada pai, por teres feito as compras, por me teres levado à feira contigo, por me teres levado para o teu trabalho de vez em quando, por me levares a andar de bicicleta quando chegavas a casa. Obrigada por me teres ensinado a gerir o meu dinheiro, a ser responsável, e a desenvencilhar-me sozinha.
E claro, obrigada manas, por me terem safado de sarilhos, por me terem metido em sarilhos, por me deixarem fazer parte dos vossos grupos, por termos andado à porrada umas com as outras, por darmos porrada a quem se metesse com uma de nós, pelos inúmeros galos e buracos que abrimos nos nossos joelhos e testas. E obrigada por serem mulheres fortes, e independentes, como eu.
Obrigada filho, por me adorares tanto, por achares que eu sou a maior mesmo quando não sou, por me pedires ajuda, por não me quereres por perto quando estás a fazer as tuas coisas, por me telefonares quando precisas da minha opinião, por adorares quando te deixo crescer mais um bocadinho (mesmo quando me custa muito), por te preocupares com a minha saúde, por adorares quando te vou buscar à escola e também adorares quando não vou. Obrigada pelos mimos que me dás, obrigada por estares a crescer e a tornares-te num miúdo independente, sociável, divertido e brincalhão.
A minha família é maravilhosa. E se as mães desta família tivessem ficado em casa em vez de trabalhar, não se seria assim tão maravilhosa, mas de uma coisa tenho a certeza: muitas das coisas que aprendi em miúda e que me foram úteis pela vida fora não teria aprendido se tivesse a minha mãe sempre a tomar conta de mim. Enquanto crescia, precisava do meu espaço para respirar, para fazer as minhas coisas, para me aventurar. Tenho a certeza que o meu filho também precisa do dele, e só tenho medo de não lhe dar espaço suficiente. Mesmo sendo uma mãe que trabalha, consigo ser muito galinha.
3 comentário(s)

3 Comentário(s):

Parabéns mãe "galinha" que deixa voar... também acho que o problema não é trabalhar... é aquilo que se dá quando estamos juntos... isso sim, é que conta... quantos pais não estão com os filhos e não lhes ligam nenhuma?!

By Blogger amigona avó e a neta princesa, at 3:04 da tarde  

O melhor que podemos fazer aos filhos é transmitir-lhe os valores que recebemos dos pais.

Não achas?

By Blogger Eduardo, at 8:16 da manhã  

eu mesmo: acho. Educação e valores são as coisas que eles mais precisam (juntamente com amor e carinho, claro, mas nem ponho isso em questão).

By Blogger snowgaze, at 9:13 da manhã  

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