sexta-feira, março 10, 2006

Querido Manel...*

Esta semana tenho-me sentido um pouco em baixo. Tive o azar de ter tido uma insónia logo na noite de domingo para segunda, o que me estragou a semana toda. Ando feita uma zombie.
Provavelmente por isso, tenho tido sonhos estranhíssimos. Por exemplo, com figuras públicas de idade avançada (mais de 35 anos) que me acham o máximo, e decidem mudar a vida delas por minha causa. São uns queridos, estes senhores que me aparecem nos sonhos, mas mesmo assim não percebo como é que foram lá parar. É que nem sequer ando a sonhar com actores ou cantores, nem pessoas com quem me identifique ideologicamente. Ao menos são gajos inteligentes. No entanto, nem nos meus sonhos estes tipos têm sorte, era o que me faltava, ter que aturar velhotes. Ainda assim, acordo com uma sensação de que estou no lugar errado, e de que a minha vida mudou de repente.
Querido Manel, conheces algum remédio para acordar mais devagar e ter tempo para me adaptar à realidade desse momento? Quanto aos sonhos, não me importo de continuar a ter os mesmos, afinal, a minha vida durante a noite não tem que ser a mesma que durante o dia. A transição é que é difícil.
Gostaria que me ajudasses com mais um problema. Ao longo da vida, aprendi que não interessa se o chefe tem razão, e que se deve sempre fazer o que o chefe manda. Quando o chefe está chateado, deve-se tentar ao máximo apaziguá-lo, ou fugir do seu alcance o mais rapidamente possível, se não há maneira de resolver o problema. No entanto, isto parece só funcionar quando se trata do meu chefe. Quanto às outras pessoas, que também têm chefes, não tem importância nenhuma o que elas fazem, ou quão incompetentemente o fazem, elas nunca se metem em sarilhos. O parvalhão que está no serviço de apoio a cliente de uma grande empresa não tem problemas nenhuns em ignorar os problemas dos clientes, ou fazer de conta que não têm solução, deixá-los em espera enquanto joga online, ou simplesmente, fazer o contrário do que lhe foi pedido. Onde é que está o chefe destes gajos?
Além deste, há ainda o problema de o que fazer quando a chefe sou eu, e quem trabalha para mim está a fazer um péssimo trabalho. É fodido saber que se tem que despedir alguém, quando sabemos que esse alguém precisa desesperadamente do trabalho que tem, tem filhos para sustentar, e não tem outros meios de sobrevivência. Mas também é fodido saber que na prática se está a pagar o dobro por um trabalho que ainda para mais sai mal feito.
Querido Manel, conheces alguma maneira de acalmar a minha consciência? De preferência, uma que não implique que tudo continue na mesma, pois não me sinto de forma nenhuma satisfeita com esta situação.
Muito obrigada,

Maria


(*versão snowgaze das cartas à revista Maria)
0 comentário(s)

0 Comentário(s):

Enviar um comentário página inicial