segunda-feira, março 06, 2006

Gestao de expectativas II

Quando era miúda, tinha alguma dificuldade em conseguir o que queria. Muitas coisas tinham que ser negociadas até à exaustao, e os meus pais nao eram dos que cediam a birras ou caprichos. Assim, tive que aprender a negociar, quer dizer, a dar a volta aos meus pais sem que eles se apercebessem. Provavelmente eles até me topavam à distância. Mas dizer apenas que nao queria aquela mochila horrorosa porque nao gostava dela, nao era razao suficiente. Entao aprendi a descobrir defeitos às coisas. Afinal, nada é perfeito. Aquela mochila horrorosa era pequena, principalmente se comparada com a mochila vermelha linda que eu queria ter, e que custava o dobro. Aquelas calcas de ganga com um corte horroroso apertavam-me, e o número a seguir ficava-me largo, portanto tinha que levar as outras, muito mais giras, e que me assentavam muito melhor. Quanto a doces, nao havia nada a fazer, só em dias especiais, e se ajudasse a mae nas compras.
Nos meus anos de teenager, comecaram os problemas das saídas. Os meus pais, apesar de conhecerem perfeitamente todos os meus amigos e as famílias deles, perguntavam-me sempre com quem é que ia, onde ia, a que horas voltava, quem era esse gajo com quem eu ia sair (de tarde!) e quem eram os pais deles. E claro, volta e meia proibiam-me de ir a uma festa ou a um sítio qualquer. Sabendo que havia uma certa probabilidade de os meus pais dizerem que nao aos meus pedidos, optei por uma solucao brilhante. Volta e meia inventava um acontecimento qualquer, na esperanca que eles dissessem que nao, para que na vez seguinte, quando houvesse uma festa verdadeira, eles me deixassem ir. Se por acaso eles permitissem que eu fosse ao evento fictício, entao no próprio dia fazia de conta que nao me apetecia ir, com intencao de que os meus pais pensassem que eu até era uma miúda caseira. Pois...
Nem era nada de especial, mas resultava.
Hoje em dia já preciso de tanta ginástica. Mas ainda assim, há situacoes em que dá um jeitaco saber dar a volta às pessoas. Com umas resulta, com outras nao, mas nao se perde nada em tentar.
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