quinta-feira, março 03, 2005

A não deixar passar em branco

Este artigo de Maria Filomena Mónica, de seu título "as mulheres portuguesas são parvas". Vale a pena ler tudo, mas destaco apenas algumas partes:

"Quando casei, o que de mim se esperava, além da procriação continuada, era que passasse o dia a arrumar a casa, a cozinhar pratos requintados e a vigiar a despensa. Hoje, a estas tarefas vieram juntar-se outras. As mulheres modernas são também supostas ser boas na cama, profissionais competentes e estrelas nos salões."

"Os portugueses excedem-se verbalmente no seu amor pelas crianças: para 62 por cento, os indivíduos que não têm filhos levam uma "vida vazia". Ora, são estes senhores, que tanto dizem amar os filhos, que se não dão ao trabalho de lhes mudar as fraldas, de os levar ao médico ou de os alimentar. As mulheres portuguesas gastam três vezes mais horas do que os homens na lida doméstica: elas despendem, por semana, vinte e seis horas, eles apenas sete, o que dá uma diferença de dezanove horas semanais, uma média superior à europeia. As portuguesas continuam a ser exploradas, como se nada se tivesse passado desde o momento, na década de 1960, em que a minha geração ergueu a bandeira da emancipação feminina.Algumas das jovens, que responderam ao inquérito, declararam conformar-se com a distribuição do trabalho vigente, chegando a dizer que "nós nunca nos zangamos por causa das tarefas domésticas", continuando a lavar a roupa, a passar a ferro e a mudar fraldas, como se os filhos não fossem responsabilidade de ambos. "

"É por isso que a luta tem de continuar. Não sei se sou "femininista", nem me interessa debater a questão terminológica. Sei que sou contra todas as injustiças e, entre elas, contra a ideologia que nos quer manter encerradas numa Casa de Bonecas. Ao longo dos anos, tenho ouvido de tudo, incluindo mulheres que dizem estar contra a emancipação feminina. Pensei então que não valia a pena perder tempo com tontas. Mais madura, considero hoje que o melhor é retirar-lhes o direito ao voto, o direito ao divórcio e a protecção legal contra a violência doméstica. Se gostam de ser escravas, que o sejam. Acabou-se o tempo das contemporizações. Quem luta, tem direitos; quem se resigna, fica de fora."
2 comentário(s)

2 Comentário(s):

Eu,no primeiro ano de faculdade, ainda ouvi que "os homens nao ajudam nada em casa".Nao sei o que e mais irreal, se a constataçao do facto como se fosse irreparavel, se o verbo "ajudar" em lugar do legitimo e evidente "fazer a parte deles"...
...como em minha casa nunca tinha sido assim, confesso que fiquei de olhos em bico, espantadissima a pensar se as minhas amigas morariam realmente na minha geraçao...

By Blogger Rita Maria, at 12:22 da tarde  

São ambas as coisas o reflexo de quem não quer que o mundo ande para a frente. Eu desde miúda que culpo as mães por não educarem os filhos (rapazes e raparigas) para que mudem o mundo, porque se há alguém no mundo que tem todas as oportunidades para mudar as coisas, são as mães.
A partir do momento em que tanto o homem como a mulher trabalham fora de casa, não sei porque carga de água é que um deles há-de ter obrigação de manter a casa em ordem e o outro simplesmente de "ajudar" se e quando lhe aprouver. E quando têm filhos isto é ainda pior, porque estão a dar o exemplo para a geração futura. Mais do que o que se diz, aquilo que fazemos em frente aos nossos filhos é o que lhes irá ficar como exemplo de como se vive.

By Blogger snowgaze, at 4:06 da tarde  

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